As superquadras que caracterizam a malha urbana de Brasília são definidas por Lucio Costa, a posteriori, como a "escala residencial" da cidade: um jogo de palavras que obscurece o entendimento de como se estrutura o tecido residencial da capital. Visando a perceber com maior clareza as relações de escala --- no sentido convencional, isto é, geométrico, da palavra --- na superquadra, abordam-se inicialmente as contradições inerentes à abstração espacial e discursiva no modernismo. Em seguida, analisam-se as relações de escala na área residencial de Brasília em três níveis sucessivos: as articulações de escala da unidade de vizinhança, os elementos de composição espacial na superquadra, e o papel dos edifícios na concretização das escalas e espacialidades peculiares ao urbanismo desta cidade. A cada passo, observa-se como as categorias interpretativas avançadas por diversos estudiosos de Brasília e da arquitetura moderna se articulam, nos seus esclarecimentos e contradições, com a abstração e ambiguidade espacial da superquadra. O conjunto assim indissociável de espaços e discursos sustenta o paradigma do habitar moderno, ao preço, porém, de se erigir um sistema de mistificações conceituais.
Palavras-chave: Brasília (DF), Urbanismo modernista, Unidade de vizinhança, Morfologia urbana
The superblocks that characterize Brasilia's urban fabric are defined by Lucio Costa, a posteriori, as the "residential scale" of the city: a play on words that obscures a proper understanding of how the housing mass of the Brazilian capital is structured. In order to perceive more clearly the relations of scale --- in its conventional, that is, geometric, sense --- in the superblock, we begin by addressing the contradictions inherent in the spatial and discursive abstraction of modernism. From there, we analyze the scale relationships in Brasilia's residential area according to three successive scopes: the scale articulations around its neighborhood unit, the elements of spatial composition in the superblock, and the role buildings play in actualizing the scales and spatial relations peculiar to this city's urbanism. At each step, we note how the interpretive categories put forward by several scholars of Brasilia and of modern architecture come together, in their clarifications as well as contradictions, with the abstraction and spatial ambiguity of the superblock. The complex, thus made indivisible, of spaces and discourses upholds the paradigm of modern dwelling, yet this comes at the price of erecting a system of conceptual deceptions.
Keywords: Brasilia (Brazil), Modernist urbanism, Neighborhood unit, Urban morphology
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